Corrida de Stand-Up Paddle em Morro de São Paulo: Minha Jornada e Lições do Mar

O quarto quilômetro.

Empurrão final. Correndo na areia até a linha de chegada após seis quilômetros de corrida pelas águas de Morro de São Paulo. Crédito da foto: João Pita.

Os líderes estão logo à minha frente na corrida de stand-up paddle em Morro de São Paulo.
Passei o último trecho no esforço máximo, recuperando terreno, alcançando-os remada por remada. Minha respiração está controlada. Meus abdominais estão queimando.
Minha prancha corta as águas do Atlântico, ondas rebatendo a cada remada.
Aqui é onde a corrida é vencida.

Concentrado. Navegando pelas águas de Morro de São Paulo, cada remada me impulsiona adiante na corrida.
Crédito da foto: João Pita

Uma curva com boia se aproxima. Eles executam perfeitamente — eu não.
Perco velocidade, só por um segundo, mas um segundo é suficiente. Eles se distanciam.
Eu forço mais, tentando fechar a distância, mas o oceano não liga para o quanto você se esforça — ele só recompensa a precisão.

O cansaço começa a bater. Meu corpo está gritando. E então — eu caio.

Já estou na água antes mesmo de perceber. Meu corpo reage antes da mente, me puxando de volta para a prancha. Os líderes estão cada vez mais à frente, mas essa corrida ainda não acabou.

Para entender como cheguei até esse momento — você precisa saber o que foi necessário para chegar até aqui.


Chegando a Morro de São Paulo: O Início da Minha Corrida de Stand-Up Paddle

Morro de São Paulo, Bahia. Duas horas e meia de Salvador de catamarã.
Foi lá que a corrida ia acontecer. Mas antes mesmo de pensar em competir, eu precisava chegar — com minha prancha— à ilha.

Em pé, descalço, em frente ao meu chalé rústico em Morro de São Paulo, Bahia, com minha prancha emprestada e encharcada — me preparando para a corrida de stand-up paddle. Um momento de silêncio antes da intensidade que viria.

Muito antes da chegada dos turistas, estas terras e águas pertenciam ao povo Tupinambá — guerreiros, navegadores e defensores deste litoral.
Morro de São Paulo já foi um campo de batalha, primeiro pela resistência indígena contra os invasores portugueses, depois como um posto avançado fortificado do domínio colonial.

Ainda não tenho minha própria prancha, então peguei uma emprestada. Mas não qualquer prancha — uma prancha encharcada, três vezes mais pesada do que deveria ser.
Carregá-la, me mover com ela, remar com ela — tudo isso exigiu mais de mim do que deveria. Mas eu não estava inventando desculpas. Isso era só mais um obstáculo a ser superado.

Chegar lá já era uma missão por si só. Uma viagem de catamarã, depois um barquinho até uma praia isolada, e então uma trilha coberta de cipós, com minha prancha na cabeça.
Quando finalmente cheguei — um chalézinho escondido dentro da Mata Atlânticasenti o peso da jornada.

Então relaxei. Pés pro alto, rede balançando, ondas quebrando ao longe. Eu bolei um e coloquei um pouco de dub dos anos 70 e 80.
Um momento só pra respirar antes de tudo entrar em movimento de novo.

Unwinding in the hammock, book in hand, surrounded by the Atlantic forest in Morro de São Paulo. A moment of stillness before the race.


Na Noite Anterior: Uma Caminhada Sob a Lua Cheia

Mais tarde naquela noite, fui até a pequena vila de Gamboa, o local da prova. Isso não era só um evento de stand-up paddle — era o Campeonato Brasileiro de vários esportes aquáticos.
Canoagem, vela, natação de longa distância — os melhores do país estavam lá. E eu também estava ali.

Estava ali representando SUP DA, graças ao Coach Danilo Anderson, que havia me incentivado a dar esse passo rumo à competição.
Ele não apenas me ensinou o básico — ele viu algo em mim e me desafiou a me testar.

Comi algo, absorvi a energia do lugar e deixei o clima me envolver. A prova ainda estava a algumas horas de distância, mas eu já sentia como se estivesse competindo.

Contemplei tudo ao meu redor. O Atlântico se estendia além das árvores, o oceano chamava. Um momento de silêncio antes da corrida.

Então começou a jornada de volta. A maré havia baixado, então, em vez de pegar um barco, caminhei pela praia sob a lua cheia rosa.
A areia estava firme sob meus pés. As ondas sussurravam baixinho. A noite se abria ao meu redor.

E, naquele momento, me senti completamente presente.

No dia seguinte, seria eu navegando pela água. E eu estava pronto.

Soaking in the energy of the Atlantic forest. Rest, reflection, and the rhythm of the ocean before race day.


Dia da Corrida: Totalmente Conectado

Na manhã da corrida, eu estava focado, centrado, sintonizado.

Hidratação? Resolvida.
Eletrólitos? No ponto.
Mentalidade? Afiada.

E a música. Não qualquer música — faixas aleatórias que tocavam quando eu era adolescente nos clubes de futebol, quando eu competia puramente por amor ao esporte.
Bandas como Grinspoon, Incubus & Powderfinger. Antes do lado comercial do esporte, antes dos contratos e das expectativas.
Era sobre reviver aquele sentimento.

Foto: João Pita


De Volta ao Quarto Quilômetro

Alcancei os líderes. Estou lado a lado com eles.
Mas eles fazem uma curva na boia mais limpa, e isso é tudo o que precisam. Começam a se distanciar.

Eu forço. Forte.

Então — eu caio.

Me levanto.

Então — eu caio de novo.

Eu sei o que é isso. Fadiga, microerros, concentração falhando.
O oceano não permite enganação. Ou você se ajusta, ou afunda.

Eu me ajusto.

O trecho final é brutal, mas termino forte. Com o remo na mão, correndo pela areia até a linha de chegada.

Nem sei qual foi minha colocação. Só sei que dei tudo de mim. Evoluí. Deixei tudo ali.


As Consequências & O Que Vem a Seguir

Depois, descubro — quinto lugar.

Meu primeiro pensamento? Razoável.

Meu segundo pensamento? Não é o suficiente.

Eu sei que posso ser melhor. Eu serei melhor.
O fogo já está aceso para a próxima. Daqui a cinco semanas, outra corrida.
Melhor preparação. Melhor execução. Um jogo mais afiado.

Mas além da competição, esse esporte está me ensinando algo mais profundo.

É sobre ouvir a água. É sobre aprender com o movimento.
É sobre entender que a maestria nunca é alcançada — apenas perseguida.

E por isso sigo em busca.

Se você acompanhou essa jornada — agradeço de coração.

Se você nunca tentou o stand-up paddle — vai lá e tenta.
A água ensina de um jeito que mais nada ensina.

E eu ainda estou ouvindo.

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